Quando vemos uma área monocultural de larga escala podemos, por vezes, questionar quais são as razões para que estes sistemas ainda operem desta maneira – pois sabemos que o mundo está clamando por soluções que integrem melhor a biodiversidade, a produção de alimentos e o bom uso da terra. Mas… o que aconteceu ao longo do tempo para que a agricultura tenha se tornado essa grande potência, de grandes áreas e grandes impactos?
Trabalhar uma única cultura agrícola traz consigo simplificação na implantação, no manejo e na colheita, e isso reflete em eficiência operacional e capacidade de operação – muitas vezes totalmente mecanizada – nas áreas de produção. A evolução das tecnologias para alta performance, desde a modificação de materiais genéticos até insumos altamente concentrados e as máquinas de alto desempenho, criou também uma linha de raciocínio onde o atributo diretamente financeiro é o mais valioso.
Agora estamos em uma nova geração da agricultura, colocando também os serviços ecossistêmicos e sociais em igual pauta e relevância dentro do contexto produtivo. E, para isso, cada vez mais os sistemas agroflorestais se apresentam como uma ferramenta poderosa.
E como encontrar o equilíbrio entre sistemas altamente produtivos e rentáveis com serviços ambientais de impacto na escala micro e macro? Essa é a pergunta de “milhões”.
Adentrando um pouco no aspecto técnico da produção agroflorestal, existem espécies que demandam maior ou menor intensidade luminosa para seu pleno funcionamento, o que se chama estrato. Existem culturas de estrato baixo, que aceitam níveis elevados de sombra, e culturas de estrato alto ou emergente, que já aceitam pouca ou quase nenhuma sombra para sua máxima performance produtiva. O primeiro fator importante é o de escolher arranjos de espécies que coloquem, de maneira sinérgica, espécies com diferentes demandas por luz, garantindo que todas estejam em sua melhor ambiência. Criar essas diferentes “camadas” dentro do sistema já é o primeiro passo para a otimização, maior produção absoluta de alimento e melhor desempenho por espécie integrada no sistema.
Essas espécies podem também ter seu momento adequado para entrar não só em função do espaço, mas também do tempo, no sistema. A chamada sucessão ecológica dita quais são as espécies que se dão melhor em ambientes recém-perturbados, mais preservados ou em estabilidade funcional. Somando este atributo, temos mais um fator de análise para garantia de potenciais produtivos elevados.
Mas é assim, então? Só escolher espaço e tempo para as culturas e então implantá-las? Não, existem muitos outros fatores a serem ponderados. E o foco agora será entender o papel da complexidade dos sistemas – ou seja, quantas culturas escolher de fato para dentro da área produtiva.
E, para variar, a resposta para a complexidade é uma das mais usuais: depende. À medida que colocamos mais espécies, o manejo se torna mais intenso, demandante e específico por cultura, mas em alguns casos isso é bom, e em outros nem tanto.
Operacionalmente falando, em propriedades onde haja disponibilidade de mão de obra, capacidade de planejar, operar, colher e vender uma gama diversa de culturas e que saibam que conseguem se ajustar ao timing de manejo das diferentes plantas, sistemas super complexos podem ser ideais. Já para áreas de larga escala, com baixa disponibilidade de pessoas para auxiliarem e baixa capacidade de gestão da diversidade de cultivos a serem cuidados e vendidos, arranjos agroflorestais mais simples podem ser a solução.
Um ponto bastante interessante a pontuar para auxiliar nesse entendimento é o de matriz de diversidade funcional. Às vezes, se o questionamento sobre a simplificação demasiada aparecer, já que se trata de uma linha intuitiva e até mais aceita de se trabalhar a agricultura, uma ferramenta para verificação é essa matriz. Nela, colocar as principais funções ecossistêmicas desejadas para o sistema, inserir as espécies de interesse dentro dessas funções e avaliar se existem lacunas ainda faltantes ou mesmo redundância de várias espécies cumprindo uma mesma função. Isso ajuda a dar um bom “norte”, facilitando o entendimento se as espécies desejadas/escolhidas/recomendadas para a área caminham para uma simplificação inteligente ou complexidade exagerada, por exemplo, sendo mais uma análise de suporte para a elaboração dos designs agroflorestais.
Em suma, a complexidade é muito bem-vinda enquanto for possível manejá-la. Por vezes, é preferível um desenho mais simples com as operações e processos “em dia” do que um desenho super complexo, denso e trabalhoso sem excelência operacional. Tudo será muito variável em função da realidade de cada fazenda ou área, mas tendo este conhecimento como base é possível criar cenários e interagir nesta relação entre o complexo, o produtivo e o administrável.
Na Agrosintropia, entendemos que a complexidade agroflorestal é essencial para equilibrar produtividade e sustentabilidade ambiental. Nossos projetos são planejados para otimizar a produção através da estratificação e sucessão ecológica, garantindo sistemas agrícolas saudáveis e resilientes. Se deseja transformar sua área de cultivo em um sistema agroflorestal eficiente e sustentável, entre em contato conosco. Nossa equipe de consultores especializados está pronta para criar soluções personalizadas que atendam às suas necessidades específicas, promovendo um futuro agrícola/florestal mais sustentável e rentável.
Ana Clara Rocha
Eng.ª Agrônoma, MBA em Gestão Empresarial,
Agroflorestora, Técnica Credenciada Agrosintropia.