Ao explorarmos os mistérios do solo, nos deparamos com um mundo invisível, porém essencial: o reino dos microrganismos. Nesse domínio subterrâneo, a relação entre as plantas e esses microrganismos é tão antiga quanto a própria história da vida. As plantas dependem fundamentalmente dessas interações microbianas para sua própria existência.
Essa interdependência é o cerne da fertilidade do solo. As plantas, através da fotossíntese, fornecem açúcares aos microrganismos em troca de nutrientes. Essa troca simples é a base para a saúde e vitalidade das plantas.
Os potenciais efeitos de uma microbiota saudável no solo são vastos e cruciais para o sucesso da agricultura e podemos destacar:
– Disponibilização de nutrientes;
– Estruturação física do solo;
– Expansão do sistema radicular;
– Estímulo ao crescimento vegetal;
– Resiliência do sistema.
Para que isso tudo aconteça é necessário que essa microbiota seja alimentada e é aí que os sistemas agroflorestais exercem papel crucial, pois desde a implantação das áreas a cobertura de solo é preconizada. A matéria orgânica depositada sobre o solo serve como alimento para os microrganismos.
Na agrofloresta se preconiza o plantio sucessional e adensado de espécies e um dos propósitos é otimizarmos a fotossíntese e produzir alimento não só para seres humanos, mas para toda essa vida no solo. Podas periódicas em sistemas agroflorestais garantem um aporte constante de matéria orgânica, mantendo níveis adequados de temperatura e umidade para a vida no solo.
À medida em que o sistema se desenvolve, as áreas vão se tornando mais complexas do ponto de vista da vida, pois conforme as plantas vão se desenvolvendo, com o manejo, mais se aporta matéria orgânica e de fontes diferentes. Isso soa como um convite para que organismos mais especializados possam decompor esse material, criando húmus que é a matéria orgânica estável do solo.
O plantio é planejado para que a produção de matéria orgânica seja feita na própria área de maneira que facilite a manutenção da cobertura de solo. Como na agrofloresta existe uma diversidade de espécies desde capins, ervas, arbustos e árvores. Com o desenvolvimento do sistema o manejo através da poda das árvores o material podado é depositado sobre o solo. Essa cobertura de solo cria um ambiente favorável para a sobrevivência de fungos micorrízicos e seres da microfauna do solo, como minhocas, besouros, cupins e colêmbolos decomporem esse tipo de biomassa mais complexa e assim liberar os nutrientes de maneira gradual para as plantas.
Em suma, para cultivar com sucesso, devemos antes de tudo ser cultivadores de fungos e bactérias e outros microorganismos benéficos para o solo. Alimentar a vida do solo é a chave para uma agricultura sustentável, produtiva, regenerativa e resiliente e os sistemas agroflorestais emergem como uma poderosa ferramenta nesse processo, ao promoverem interações positivas entre plantas e microrganismos, resultando em solos férteis e plantas vigorosas.
Autores:

João Gilberto Peixoto Milanez
Diretor de Educação Agroflorestal

Andrei Pereira Oliveira
Diretor Agrícola